quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O cozinheiro.

De manhã acorda bem cedo, pedala mais que um atleta. Escolhe o peixe e o compra, depois encosta sua bicicleta. Põe sua dolman já cansada, já sem muita pompa, cheira uma trufa perfumada que em suas mãos lhe encanta. Lembra de temperos, de saladas, cada cheiro uma lembrança lhe aponta. Uma pontinha de aspargo; repolho; laranja. Um sonho de padaria, um sonho de esperança, um sonho que se sonhe junto e vire realidade. Entre panelas e cheiros, sabores e labores, muita vida pela frente. Vai trabalhar que o forno esta quente!
Alguns anos se passaram e o cozinheiro virou chef. Uma dolman bem bonita para quem do passado não se esquece. Deixou a barba crescer, não pegava mais em panelas. Isso no trabalho, porque em casa nunca ficava longe delas. Estava sempre inventando, sonhando novas receitas. Amava sua vida sem dores, protegida por sabores e adorava sua cerveja. Degustava muitos vinhos, era o mestre da harmonização. Tinha uma esposa e dois filhinhos, amava sua criação. Era tão feliz o homem, que nem preparava comida, ele fazia coisa melhor, nos fazia pensar na vida quando degustávamos cada uma de suas novas idéias.
Dedicava-se tanto àquilo, que se doava por completo. Quando veio perceber já havia escrito mais de 100 receitas para cada letra do alfabeto. Publicou então sua obra e plantou várias árvores. Publicou mais outros livros, ficou conhecido em todo o mundo: ensinou japonês a cozinhar arroz e também alemão a fazer salsicha, ensinou na França outras receitas tantas. Fez uma enciclopédia com todos os sabores, deu nome aos cheiros, classificou os melhores odores.
Quando estava bem velhinho decidiu que iria parar, dedicar-se somente à esposa, aos netos e o lar. Passou muito feliz alguns anos e depois Deus mandou lhe buscar. No seu enterro muitos vieram lhe saudar. E chegando lá no céu, não foi nenhuma surpresa, todos estavam lhe esperando em volta de uma grande mesa. Ele sentou no seu lugar, e se serviu do banquete. Perguntou inocentemente quem preparara toda aquela comida tão gostosa, e lhe foi dito o seguinte: esta comida foi preparada por tu durante toda tua vida, e não te espantes que ela agora esteja aqui, pois quando morremos não levamos conosco nada do que compramos, mas carregamos sempre conosco tudo aquilo que construímos com amor.

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